Numa dessas reuniões, uma menina de 14 anos, filha do dono da casa, veio escutar. Notei de passagem que ela era linda.
Cinco anos depois, voltei a encontrá-la quando coordenava uma revista popular empenhada em revolucionar tudo, inclusive a publicidade: garotas, em vez do habitual texto chato.
Precisávamos de uma jovem bonita para um anúncio, mas não havia modelos profissionais no novo Estado. Um dos nossos editores dirigia um grupo de teatro e me apresentou a uma das integrantes, chamada Rachel.
Tiramos algumas fotos à beira-mar e eu a levei para casa na minha motocicleta. Nós caímos na areia e achamos muita graça.
A terceira vez foi no mesmo teatro experimental. Lá estava ela de novo, e a certa altura ela tentou adivinhar minha idade, prometendo um beijo para cada ano que errasse. Ela disse que eu era cinco anos mais novo do que era realmente, e nós marcamos um encontro para acertar as contas.
Continuamos nos vendo de vez em quando. Certa vez, eu devia encontrá-la à meia-noite num café. Como eu não chegava, ela foi me procurar. Encontrou uma multidão em frente ao meu escritório, e foi informada de que eu estava no hospital. Eu tinha sido agredido por soldados que me quebraram todos os dedos.
Eu estava completamente desamparado. Rachel se ofereceu para me ajudar por alguns dias. Eles duraram 58 anos.
Descobrimos que viver juntos nos convinha. Como desprezávamos casamentos religiosos (não havia casamento civil), vivemos alegremente em pecado durante cinco anos. Até que seu pai ficou gravemente doente. Para acalmar sua mente, nos casamos às pressas, no apartamento de um rabino. Pedimos emprestadas as testemunhas e a congregação de um outro casamento e o anel da mulher do rabino.
Foi a última vez em que algum de nós usou um anel.
Durante 58 anos, ela examinou cada palavra que eu publicava. Não era fácil. Rachel tinha princípios muito rigorosos, e não abria mão deles. Cobria algumas páginas minhas com tinta vermelha. Às vezes