conseguia aprender a ler, ela o incumbia de manter a sala de aula em ordem. Se uma menina era rejeitada por colegas mais bonitas, fazia o papel da boa fada numa peça. Ela ficava feliz de vê-los desabrochar como flores ao sol. Passava horas explicando a pais retrógrados as necessidades de seus filhos.
Nas férias escolares, seus alunos ficavam ansiosos por voltar às aulas.
Ela tinha um objetivo: incutir valores humanos.
Havia a história de Abraão e o local do sepultamento de Sara. Efron, o Hitita, recusa-se a receber dinheiro. Abraão insiste em pagar. Depois de uma longa e bela discussão, Efron encerra o assunto: "A terra vale quatrocentos shekels de prata. O que é isto entre nós dois?" (Gênese, 23). Rachel disse aos alunos que esta ainda é a maneira beduína de fazer negócios, levando ao acordo de uma maneira civilizada.
Depois da aula, Rachel perguntou à professora da turma ao lado como explicara o episódio aos alunos. "Eu lhes disse que é um típico caso de hipocrisia árabe! Eles todos são uns mentirosos de nascença! Se ele queria dinheiro, por que não o disse sem rodeios?"
Gosto de pensar que todos os alunos de Rachel - ou quase todos - se tornaram seres humanos melhores.
Eu acompanhava de perto suas experiências educativas, e ela, minhas proezas jornalísticas e políticas. Basicamente, estávamos tentando a mesma coisa: ela, educar indivíduos, e eu, o público em geral.
Depois de 28 anos, Rachel achou que estava perdendo o jeito. Achava que um professor não devia continuar depois de perder a gana.
O empurrão final veio quando cruzei as linhas em Beirute, em 1982, e me encontrei com Yasser Arafat. Foi um acontecimento de repercussão mundial. Estava acompanhado por duas jovens da minha equipe editorial: uma correspondente e uma fotógrafa. Rachel se sentiu deixada à margem de um dos acontecimentos mais emocionantes da minha vida, e decidiu mudar de rumo.
Sem me dizer nada, fez um curso de fotografia. Semanas depois, fotos de um acontecimento me foram mostradas. Eu escolhi a me-