num restaurante, dirigiu-se a mim e apertou minha mão. Mas Rachel deixou-o com a mão pendurada no ar. Constrangedor.

Quando ela gostava das pessoas, deixava claro. Ela gostava de Yasser Arafat, e ele por sua vez gostava dela. Fomos encontrá-lo muitas vezes em Túnis e depois na Palestina, e ele a tratava com a maior cortesia, permitindo que tirasse fotos a qualquer momento, cobrindo-a de presentes. Certa vez, deu-lhe um colar e insistiu em colocá-lo pessoalmente no seu pescoço. Como enxergava mal, ficou tateando por longo tempo. Era uma cena incrível, mas seu fotógrafo oficial nem se mexeu. Rachel ficou furiosa.

Quando servimos de escudo humano ao presidente palestino, na época em que estava sitiado, Arafat beijou-a na testa e a levou pela mão até a entrada.

Poucas pessoas sabiam que ela sofria de uma doença incurável hepatite C, deitada como um leopardo adormecido à sua porta. Ela sabia que a doença poderia despertar a qualquer momento e devorá-la.

A infecção, sem explicação, foi descoberta há mais de 20 anos. Cada consulta médica podia significar uma sentença de morte. Ela foi tomada pela doença há cinco meses. Houve muitos indícios de que isto estava por acontecer, mas eu os ignorei, embora ela os visse claramente.

Nesses cinco meses, passei cada minuto com ela. Cada dia era para mim como um presente precioso, embora ela estivesse afundando inexoravelmente. Nós dois sabíamos, mas fingíamos que ia dar tudo certo.

Ela não sentia dores, mas tinha uma dificuldade cada vez maior para comer, para se lembrar e, mais perto do fim, para falar. Era comovente vê-la lutando para encontrar palavras. Ela passou dois dias em coma, até que se foi, inconsciente e sem dores.

Insistira em que nada fosse feito para prolongar sua vida artificialmente. Foi um momento terrível quando pedi aos médicos que parassem de lutar e a deixassem morrer.

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